parte 1 – depoimento escrito por Ruth Toledo Altschuler
com base em duas décadas de experiência pessoal e pesquisa profissional
Minha primeira entrada nesse espaço natural grandioso e inigualável foi o apogeu de uma sequência de experiências que ampliaram a minha percepção e mudaram, de forma radical, o curso de minha vida. Participei do Practitioner Training na Terra Flora em junho de 1991 e recebi uma iniciação: a transmissão viva da conexão com os Arquétipos das Plantas, através dos meus mestres Patricia Kaminski e Richard Katz.
Logo em seguida, vivenciei este primeiro encontro com antigas florestas das Redwoods Sequoia sempevirens, e, como numa passagem através de um portal, integrei a expansão da minha percepção das forças da Natureza em sua relação com a jornada da alma.
Dez anos depois, tornei-me residente dessa região ao me casar com meu parceiro Stephen que aqui morava. Passei a ter as Redwoods como vizinhas, e relato essa história substanciando-a com familiaridade adquirida ao longo de mais de duas décadas.
Formadas na sucessão de séculos de crescimento integrado
Uma floresta de Redwoods, com na sua biodiversidade, é formada ao longo de um tempo de pelo menos 2000 anos. Chamadas de old growth Redwood forests ou florestas primárias de sequoias da costa, seus poucos redutos remanescentes estão localizados numa estreita faixa próxima ao Pacífico, na parte Norte da Califórnia.
Cada broto de árvore precisa ter tido tempo de crescer, muitas árvores juntas desenvolvendo plena estatura para que, gradualmente, as diferentes alturas dessa vasta extensão vertical sejam sucessivamente ocupadas pelas múltiplas espécies que integram esse meio ambiente singular.

foto de Ruth Toledo Alschuler
Bosques ainda existem graças à luta de John Muir e outros pioneiros
Hoje resta apenas 4% da floresta original das Sequoias da costa, ou Redwoods, com a qual os habitantes nativos da região, que deixaram registro de sua presença, conviveram por mais de 3000 anos. A partir de 1850, uma após a outra, as árvores foram sendo derrubadas aceleradamente para a construção de casas, cercas, ferrovias e indústrias em toda a Califórnia.
As próprias condições de geração e existência desses bosques e o micro clima específico, com a fria humidade da bruma costeira típica da região, estão alterados em consequência de mudanças climáticas. Portanto, as poucas áreas remanescentes da floresta original constituem o único testemunho vivo de semelhante estatura e grandiosidade em forma de bosques: elas são as árvores mais altas do mundo, e as mais antigas chegam a ultrapassar 100 metros de altura.
A sobrevivência dessas poucas áreas de preservação se deve ao fervor e à luta incansável de inúmeros ativistas, tais como John Muir, que consideravam essas florestas um patrimônio a ser conservado para as próximas gerações. Na passagem do século XIX para o século XX, como pioneiros no próprio conceito da preservação ambiental, eles finalmente conseguiram apoio nacional para a criação de áreas de proteção, uma luta que prossegue em muitas frentes.
Não há o que substitua a experiência viva de caminhar entre elas
Graças a eles, ainda hoje temos o privilégio de visitar esses locais, verdadeiras Catedrais da Natureza, e reverenciar essas formações magníficas, que, por sua dimensão vertical, não podem ser representadas de forma que substitua a experiência real de caminhar entre elas.
…crescer é para sempre… growing is forever…
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Leia a nossa tradução do texto de KALLIE MARKLE, narrada neste vídeo de JESSE ROSTEN”
…há muito tempo atrás, não haviam bosques porque todo lugar era um bosque, sem estradas dividindo nem pessoas erigindo pedras e cercas e pontes… a enormidade do seu ciclo de vida era tecida em meio à suavidade das névoas, e assim elas esticaram os dedos de suas raízes se unindo umas às outras entretecidas, e se ampararam com muita firmeza…
Há muito tempo atrás, não haviam bosques porque todo lugar era um bosque sem estradas dividindo nem pessoas erigindo pedras e cercas e pontes. As árvores eram muito, muito jovens e ainda tinham muita vida a ser vivida. A enormidade do seu ciclo de vida era tecida em meio à suavidade das névoas, e assim elas esticaram os dedos de suas raízes se unindo umas às outras entretecidas, e se ampararam com muita firmeza. As samambaias acharam bolsões nos dedos das raízes para se aninhar e o musgo se estendeu sobre o solo e tudo ficou muito macio. As árvores cresceram traçando padrões de luz e sombra no solo e as trepadeiras se espiralaram formando novos desenhos. Aranhas pintadas andavam de uma lado para o outro e de cima para baixo, fazendo teias para colher a bruma, e a bruma se demorava nessas teias em gotas que continham a luz. Tudo era muito muito quieto o tempo todo porque as árvores tinham que estar muito focadas em suas próprias vidas. Não é fácil crescer tanto, e por tanto tempo. Algumas árvores foram ficando cansadas e se deitaram no solo macio; outras se inclinaram e repousaram seu topo numa outra. Crescer é para sempre, elas sussurraram, e quando uma árvore tinha que parar, dela crescia uma outra que alçava grandes alturas no céu cinzento e dourado.
As árvores descansaram e esperaram a bruma voltar para refresca-las. Elas eram muito muito grandes, mas não tão velhas, pois ainda tinham muito o que crescer.
Leitura da assinatura da planta: observação da planta para a compreensão de suas qualidades como floral
Durante o Practitioner Training em 1991, ávida por aprender com Richard Katz e Patricia Kaminski, assimilei tudo o que me foi oferecido sobre a leitura das assinaturas das plantas.
A expressão assinatura da planta se refere à maneira que, desde a antiguidade, pesquisadores como Paracelsus observavam as formas, gestos e expressão das plantas para descobrir as qualidades que elas oferecem para ajudar seres humanos e animais.
Nas aulas que tínhamos depois que escurecia, quando seus belos slides podiam ser projetados, Richard nos mostrava as plantas agrupadas por famílias botânicas, descrevendo a característica individual de cada uma (forma, cor, enraizamento, relação com o ambiente e com outras plantas, etc) e as características comuns a todas as que pertencem a uma mesma família.
Durante o dia, na experiência viva na natureza, eles nos ofereciam oportunidades para a prática da observação e estudo das plantas em vários níveis: a observação de sua expressão visível em todos os seus detalhes, e a observação de sua presença e mensagens na dimensão invisível. Dessa forma, nós íamos desenvolvendo a nossa própria capacidade de percepção objetiva e subjetiva das plantas estudadas, adquirindo assim uma relação direta e duradoura com seu Arquétipo vivo.
Ali, pela primeira vez, passei a compreender e praticar os vários caminhos que nos levam à compreensão integrativa das qualidades das essências florais.
Em seguida, seguindo um forte chamado, dirigi 600 km para chegar até o Parque Nacional das Redwoods no extremo norte da Califórnia, onde as mais altas árvores foram preservadas.
Leia sobre a pesquisa de sua assinatura, que iniciei na época, e continuei ao longo dos anos: Redwoods: como as árvores mais altas que existem nos ensinam que crescer é para sempre.
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